SOBRE A IMPORTÂNCIA DE SE RECOLHER PARA SE RENOVAR – Dia 6 do Diário da Lua Vermelha

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O recolhimento feminino é necessário. A vida não pode atropelar o seu tempo de restauração. Menstruar é renovar-se. É deixar ir embora, é deixar morrer para renascer. Ao reservar um tempo para observarmos o nosso corpo, somos capazes de nos reconectarmos com um dos maiores organismos vivos e pulsantes que conhecemos: a Mãe Terra. Nós mulheres temos uma profunda ligação com a Terra pois carregamos em nós a sabedoria de todas as Luas, de todas as Estações, o poder do nascimento e da morte.

Nas tradições ancestrais, as mulheres se recolhiam durante a menstruação pois este período era um momento muito especial na qual ela deveria não apenas descansar o seu corpo, que estava em fase de renovação, como também era o momento de contemplar o silêncio e entrar em contato com nossos sentimentos mais profundos.
Segundo os estudiosos, o período menstrual era o momento no qual a mulher deveria recolher-se para entrar em contato com a Terra por meio de seu sangue e realizar profundas trocas e curas.

Um exemplo disso são as “Tendas Negras” ou “Tendas da Lua”, das tradições nativas norte-americanas na qual as mulheres da tribo se recolhiam durante a menstruação. Este era um momento sagrado de contemplar os mistérios da Mãe Terra e honrar os dons recebidos por meio de visões, sonhos, sentimentos, intuições e outras conexões estabelecidas com os espíritos ancestrais. Nesse período, como podem verificar, a mulher toma um lugar de destaque e grande importância para a tribo devido ao poder visionário que a menstruação propicia. A cor negra, por exemplo, relaciona-se com a mulher na Roda da Cura. As tendas também recebiam as meninas em seu primeiro ciclo menstrual como forma de marcar este rito de passagem para a fase adulta da mulher.
Era um momento de muita honra para as meninas, celebrado por toda tribo. Também nas tradições das tribos indígenas do Brasil este rito é presente. Entre os Juruna, quando a Lua Nova aponta no céu as meninas ficam recolhidas em suas casas. Já na tradição dos Kanamari, no Amazonas, ao terem o seu primeiro sangramento, as meninas da tribo podem ficam reclusas e podem ser alimentadas apenas pela mãe. Na tradição das meninas tukúna, o período menstrual marca um profundo aprendizado dos afazeres da vida de uma mulher adulta. Em alguns casos, como parte do rito, os corpos das mulheres indígenas são pintados de negro e sua força é honrada diferentemente do que ocorre na cultura ocidental na qual o período menstrual é considerado um período impuro muito mal interpretado.

É importante ressaltar que, durante a menstruação, nossos corpos ficam alterados não só a nível físico como também a nível emocional e isto deve ser trabalhado por meio de uma conscientização da importância de permitirmos uma conexão fraternal com outras mulheres, um compartilhamento de nossa transformação, assim como a cura de todas as nossas sombras que passam a emergir à luz da consciência.

A menstruação nos chama ao recolhimento e à reflexão. É um momento em que nós somos convidadas a encarar nossos medos e nossa força. Compreender, assimilar, perdoar e aceitar nossos pontos fortes e fracos. Ao entrar em contato com esta conexão que irá se estabelecer entre você e a Mãe Terra, muitos sintomas passam a ser identificados à luz da sabedoria ancestral e deixa de ser um incômodo para ser um processo de cura e transformação. A própria TPM passa a ser vista com outros olhos pois ela irá te trazer à toda tudo o que você precisa transformar em cura durante o seu período menstrual. Daí a importância de estar muito atenta à seu corpo e ao que ele lhe entrega.

A sua “Tenda da Lua” não precisa exatamente ser um local no qual você irá se recolher no sentido de se afastar completamente do convívio social mas pode ser, de forma simbólica, um momento no qual você se permite um repouso em meio ao caos do cotidiano, de modo que você possa ter um pouco de introspecção para poder olhar para dentro e se perceber melhor. Sabe aquela voz que te diz “hoje não” e você a ignora e se estropia toda por causa de uma teimosia que não tem o menor sentido? Por que não ouvir o que seu corpo diz e permitir-se um pouco de paz quando tudo o que você precisa é recolhimento e repouso em vez de dopar o seu corpo com analgésicos e se forçar a situações e resolução de problemas que poderiam esperar?

Sei que é difícil no início porque nossa mente está acostumada a viver no automático e achar muitas desculpas para que estejamos “sempre na ativa”. Mas o fato é que sem esses momentos de descanso nós nos destruímos. Um aparelho eletrônico, por exemplo, quando se descarrega, precisa ser colocado sem contato com a fonte de energia para que possa ser carregado e voltar a funcionar normalmente.

Nós, quando nos descarregamos não desligamos completamente como ocorre, por exemplo, com o seu computador ou smartphone. No entanto, começamos a “gastar” a nossa energia vital e isso nos traz grandes danos. Por isso, temos que ter em mente que esses momentos nos quais nos desligamos do mundo são importantes por dois motivos: pela nossa saúde corporal e para que possamos ter a oportunidade de estabelecer uma conexão mais direta com nossa fonte de energia vital, com nossa fonte de sabedoria e de poder.

Namaste!

Imagem: Charles Marion Russel (1899).

 

 

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